Das suplicantes da Grécia Antiga aos refugiados contemporâneos
- heurekasite
- 12 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de out.
Este evento já se realizou! Veja em baixo algumas imagens e palavras sobre esta sessão.

O que significa acolher quem resiste?
Na tragédia grega Suplicantes, de Ésquilo, cinquenta mulheres em fuga pedem refúgio na cidade de Argos. Perseguidas, vulneráveis, mas firmes na recusa da violência, dirigem-se ao rei não apenas em busca de abrigo, mas de reconhecimento da sua decisão e da sua dignidade.
Este gesto atravessa os séculos e ecoa ainda hoje nas muitas fronteiras, físicas ou simbólicas, que erguemos diante de quem procura refúgio. A peça de Ésquilo desafia-nos a pensar a ética do acolhimento: abrir fronteiras e reconhecer a humanidade onde ela é negada.
Para esta reflexão convidámos Fotini Hadjittofi, professora de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, e Sara Barros Leitão, atriz, encenadora e dramaturga, que criou uma adaptação contemporânea de Suplicantes, de Ésquilo, que se encontra atualmente em digressão.
Juntas, ajudam-nos a cruzar olhares sobre uma questão tão antiga quanto urgente.
Contamos consigo no próximo dia 28 de outubro, às 18h30: Das suplicantes da Grécia Antiga aos refugiados contemporâneos.
Organização: Ana Alexandra Alves de Sousa e Sandra Pereira Vinagre

Fotini Hadjittofi é licenciada em Estudos Clássicos e Filosofia pela Universidade de Chipre e possui Mestrado e Doutoramento, ambos em Estudos Clássicos, pela Universidade de Cambridge.
É investigadora do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, Professora Auxiliar e Diretora do Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa.

Sara Barros Leitão é atriz, encenadora e dramaturga. Criou e dirige a plataforma artística "Cassandra". Entre as suas criações destacam-se Teoria das Três Idades (2018), coproduzida pelo Teatro Experimental do Porto e Teatro Municipal do Porto, Todos os dias me sujo de coisas eternas (2019), a partir de um trabalho de investigação sobre a toponímia portuense, Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa (2020), eleito um dos espetáculos do ano pelo Jornal Público, e Suplicantes (2025), em digressão desde setembro.
Local
Biblioteca Palácio Galveias
Campo Pequeno
1049-046 Lisboa
Já aconteceu!
A sessão decorreu com sala cheia, confirmando o interesse crescente do público nas atividades do Heureka – Clube de Leitura.
O encontro marcou também a apresentação pública da nova direção, agora a cargo de David Miranda e Beatriz Cavalheiro, que assumem os lugares até aqui ocupados por José Alexandre Maurício e Deng Yuanying, os quais continuam a integrar ativamente a equipa.
O momento da leitura trouxe novos estudantes do primeiro ano da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa ao evento e reuniu-os com investigadores do Centro de Estudos Clássicos, num ambiente de diálogo vivo e entusiástico.
A intervenção de Fotini Hadjittofi apresentou uma leitura particularmente lúcida do mito e da tragédia de Ésquilo, situando-a no contexto político e cultural da Atenas do século V a.C., mas sem se limitar a ele. A oradora evitou os clichés fáceis — não romantizou os refugiados nem os tratou como vítimas idealizadas —, lembrando, com autoridade de quem é filha de refugiadas, que a literatura antiga está repleta de suplicantes e hóspedes que se revelam perigosos. Com leveza e humor, comentou a polémica adaptação contemporânea da peça por um professor da Sorbonne acusado de racismo por usar máscaras com traços negros, quando, na verdade, Ésquilo descreve as Danaides como tendo tez mais escura e vestes exóticas. Referiu ainda a célebre entrevista fictícia publicada num jornal francês, em que Ésquilo, questionado sobre a atualidade, teria dito que nunca vira uma sociedade tão “estúpida” como a nossa e, perguntado sobre as consequências disso, respondeu ironicamente — «uma tragédia».
Seguiu-se a intervenção de Sara Barros Leitão, que partilhou o seu fascínio que esta peça de Ésquilo exerce sobre ela desde os seus quinze anos, e descreveu o processo como a adaptou hoje à cena e porquê. A sua leitura, marcada por uma dimensão afetiva e cívica, destaca a atualidade do tema da guerra e do exílio.
(Ana Alexandra Alves de Sousa)





















