Conversas no Teatro: As mulheres que celebram as Tesmofórias
- heurekasite
- 16 de jun.
- 2 min de leitura

🎭 Os membros do Heureka vão poder debater a peça As Mulheres que Celebram as Tesmofórias, depois de assistirem à sua apresentação no Teatro Variedades dia 15 de junho pelas 16h00.
✨ O Teatro Variedades teve a gentileza de nos ceder o foyer para um momento de diálogo e reflexão.
Será uma excelente oportunidade para partilharmos impressões, levantarmos questões e pensarmos em conjunto sobre os temas que sobem ao palco.
🗣️ Convidamos todos a permanecer connosco neste espaço de conversa, pensamento e celebração da palavra.
Esperamos por todos lá!
Já aconteceu! 🎭
"As Mulheres que Celebram as Tesmofórias"? Uma fraude cultural subsidiada.
No passado domingo, dia 16 de junho, pelas 16:00, o Heureka — Clube de Leitura levou alguns dos seus membros ao Teatro Variedades, com a expectativa de encontrar em As Mulheres que Celebram as Tesmofórias uma adaptação criativa — ou pelo menos respeitosa — da genialidade de Aristófanes.
Mas muitos de nós saímos indignados com o que testemunhámos.
Esta peça nada tem a ver com o texto clássico. Os criadores usam o título de Aristófanes como pretexto vazio para promover uma gritaria desarticulada, onde não há vestígio de ironia, paródia ou inteligência crítica — que são precisamente as marcas do comediógrafo grego.
Pior: atacam Aristófanes abertamente, considerando-o irrelevante e conservador (!). Ignoram por completo a ironia fina do autor e o seu espírito profundamente subversivo. Esquecem — ou não sabem — que As Tesmofórias são uma sátira não sobre as mulheres, mas sobre o próprio Eurípides, e a forma como o teatro deste representava o feminino. Aristófanes fazia crítica literária com humor, densidade e subtileza.
Aqui, temos apenas vulgaridade gratuita, frases gritadas sem critério, sem graça nem conteúdo.
A temática da transsexualidade — que poderia ser tratada com rigor, sensibilidade ou profundidade simbólica — é aqui explorada de forma superficial e caricatural. Não há reflexão. Só ruído. É teatro sem pensamento, um espetáculo que rejeita a complexidade daquilo que diz querer representar.
É também preocupante — e revoltante — que uma produção destas receba apoios públicos. Em nome de quê? Da “cultura”?
Isto não é cultura.
É a destruição do património cultural, feita com pose progressista e total ausência de substância.
E depois, a cereja no topo do disparate: a “adaptação” é assinada por uma tal Odete, que — pasme-se — tem mestrado em Baixo Império Romano.
Pergunta-se: o que aprendeu? Onde está o rigor? A formação clássica? A capacidade de ler e entender os textos antigos?
Aristófanes, sim, vale a pena.
Vale ser lido, representado, debatido.
É um autor que atravessou séculos precisamente porque usava o riso para iluminar contradições profundas — políticas, sociais, literárias.
Mas isto que vimos em cena não é Aristófanes.
É uma apropriação vazia, desprovida de leitura, de respeito e de talento.
Confundir gritaria com crítica, vulgaridade com ousadia, ignorância com reinvenção — isso sim é trágico.
Não se destrói um clássico para parecer moderno.
Faz-se teatro porque se pensa. Porque se lê. Porque se entende.
E esta produção não entendeu nada.
(crítica de Ana Alexandra Alves de Sousa, corresponsável do Heureka - Clube de Leitura)