A sagrada hospitalidade
- heurekasite
- 24 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de out.
em culturas milenares: chinesa, indiana e grega
Este evento já se realizou! Veja em baixo algumas imagens e palavras sobre esta sessão.

Na tradição indiana, a expressão védica atithi devo bhava — “o hóspede é como um deus” — eleva o ato de acolher a um princípio espiritual, integrado no dharma, a ordem moral do mundo.
Na cultura chinesa clássica, os rituais de cortesia regulados pelo lǐ asseguram a harmonia social, enquanto shù — princípio da reciprocidade — estabelece uma ética relacional: não fazer ao outro o que não queremos para nós.
Na Grécia antiga, a xenia não se limita a ser um simples dever social: trata-se de um verdadeiro “contrato” sagrado, protegido por Zeus Xenios. O ritual de hospitalidade compreendia uma série de gestos codificados — oferecer banho e refeição, perguntar pela origem, pela família e pelo destino do viajante, partilhar a mesa e, por fim, conceder presentes ou oferendas. Esse sistema de acolhimento estruturava as relações entre anfitrião e hóspede, assegurando respeito mútuo e confiança. Um dos testemunhos mais antigos deste costume encontra-se na Odisseia, poema homérico em que Ulisses e Telémaco assumem repetidamente a condição de forasteiros em terras alheias, experimentando tanto a generosidade como a violação das regras da hospitalidade.
Colocar estas tradições em diálogo é reconhecer que, em diferentes culturas, a hospitalidade não é apenas uma prática social, mas um gesto carregado de valores éticos, religiosos e políticos: ela define a forma como nos relacionamos com o Outro e, nesse reflexo, como nos reconhecemos e situamos dentro da comunidade humana.
Organização: Cristina Guerreiro e José Maurício
Contamos consigo no próximo dia 23 de setembro, às 18h30.
Local
Biblioteca Palácio Galveias
Campo Pequeno
1049-046 Lisboa
Já aconteceu!
O Heureka – Clube de Leitura inaugurou no passado dia 23 de setembro, na Biblioteca Palácio Galveias, o novo ciclo XENIA – O Estrangeiro, o Outro e a Hospitalidade.
A sessão começou com a leitura de excertos da Odisseia em grego, conduzida por David Alexandre Miranda, Tiago Costa, André Pinela e José Alexandre Maurício. A leitura terminou com a degustação de alguns versos ouvidos na língua homérica.
Seguiu-se a apresentação dos oradores pela Professora Cristina Abranches Guerreiro, organizadora do evento e corresponsável pelo Heureka, que contextualizou o enquadramento deste ciclo.

As palestras deram então voz a três tradições milenares: na cultura indiana, com o princípio védico atithi devo bhava (“o hóspede é como um deus”); na cultura chinesa, com os rituais de cortesia (lǐ) e o princípio da reciprocidade (shù); e na Grécia antiga, com a xenia, o contrato sagrado protegido por Zeus Xenios.
O público, numeroso e interessado, participou ativamente no debate final. O momento encerrou com um comentário de síntese magistral de David Alexandre Miranda, que destacou como a hospitalidade se revela um gesto profundamente ético, religioso e político em sociedades fragmentadas — e como a força política e os nacionalismos parecem ser avessos a ela, já que o termo xenofobia surge precisamente numa época de formação e consolidação das nacionalidades.
(Ana Alexandra Alves de Sousa)















